segunda-feira, 6 de julho de 2020

XAMÃ

Desde criança ouço os chamados
Das árvores e dos pássaros
Das rochas e dos ventos
Das águas e do fogo
Da lua e das estrelas
Chamando-me sussurrantes
Pelo meu nome, e após
Voar perdido na escuridão
Dentro da noite aprendi
A ter olhos ao escutar

No ritual deste ato de escrever
Ao ouvir o bater do coração
Usando palavras como ervas
Transcendo-me em poesia
E com sua força ancestral
Encontro meus totens e guias
Fazendo de cada poema
Um cristal e pedra de poder
Transmitindo a energia sagrada
E curando-me na cura de quem lê

Geraldo Ramiere



quarta-feira, 1 de julho de 2020

EVIDÊNCIA SECRETA

Quintana me ensinou
A não datar meus poemas
Se ainda os assino

É por pura vaidade

Há poesias que tardam
Meses, às vezes anos
Para serem escritas
Outras nunca são conclusas
Continuando incompletas
Dentro do coração de poeta

E o que escrevo não é nada
Comparado ao que nunca escrevi
Versos que surgem em mim
Rarefeitos, e depois desaparecem
Mais rápido do que a mão
Poderia acompanhar

A poesia é o que permanece
E também tudo que se esvai
Evidente e secreta
Brincando entre dedos


Geraldo Ramiere

      IMAGEM: Ilustração de Jonathan Wolstenholme

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