sexta-feira, 29 de maio de 2020

DOADOR

Já falei para minha família e próximos
Quando eu falecer, doem meus órgãos
Mas por garantia escrevi este poema
Para mim é bem mais barato e seguro
Do que fazer um documento ou novo RG

Doem meu pulmão, pâncreas e intestino
Meu fígado e rins (se prestarem ainda)
E esta pele e olhos, com seus segredos
Podem doar também minhas inquietudes
Sensibilidade, charme e piadas sem graça
Além de meus sonhos, realizados ou não
Doem tudo que tiver alguma serventia
E que outros precisem e não irei mais usar
Só não doem este meu complicado coração
Que contêm tanta coisa dentro que nem sei
Seria arriscado demais se batesse noutro peito
Quero que ele e o que mais restar virem cinzas
Para serem espalhadas aos ventos por aí
Juntamente com meus versos e vontades

Geraldo Ramiere




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