O DESERTO DENTRO DO MAR
"Cultivar o deserto/ como um pomar às avessas."
João Cabral de Melo Neto
Neste exílio em mim
Pelas areias do tempo
Olho para trás e reparo
Pegadas que meus pés
Descalços e cansados
Já não se lembram mais
À procura daquele navio
Há tantos anos afundado
Afoguei-me no imenso vazio
Do despejar das minhas águas
Explorando o deserto que sempre
Esteve dentro do meu mar
Andarilho da minha aridez
Encontrei lembranças, ossadas
E o sal das noites em lágrimas
Que eu não mais chorei
Após descobrir outros naufrágios
Que nem sabia que existiam
No meio de tantos destroços
Encontrei o que buscava
A partir desse momento me permiti
Fluir imensurável outra vez
E o deserto voltou a ser mar
Geraldo Ramiere (do livro Desencantares Para O Esquecimento, páginas 95 , editora Viseu).
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