sábado, 27 de junho de 2020

ASSOMBRAMENTOS

"Desaparecia-se/ Desaparecia-se muito naqueles dias"
                                       Afonso Romano de Sant’Anna


E os desaparecidos reapareceram
Repentinamente, por todos os lugares
Que desapareceram por anos ou dias
Parecendo que nunca mais voltariam
Pessoas que até teriam morrido
Ou ao menos isso que pensaram
Sem prévio aviso de súbito surgiam
E reaparecidos agora eram
Num assombro sob sombras
Suscitando ao mesmo tempo
Alívios e alegrias naqueles
Que ainda os procuravam
Como também espanto e desespero
Nos que tinham seus desaparecidos
Há tempos enterrados
Foi quando também subitamente
Os outrora aparecidos começaram
A desaparecer, pouco a pouco

Desde então assim vivemos
Com nossos antes desaparecidos
Sem sabermos quando nós mesmos
Desapareceremos, incluindo eu
Um dos poucos remanescentes
Escrevo este poema já consciente
De que quando menos esperar
Desaparecerei também
Completamente


Geraldo Ramiere

    IMAGEM: Pintura de René Magritte.

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