quarta-feira, 24 de junho de 2020

ESPELEOLOGIA

Foi por acaso que descobri minha primeira caverna
Ainda criança ao caminhar perdido e sozinho
Recordo-me que tive medo, mas mesmo assim entrei

Iluminado apenas pela lanterna que trazia comigo
Em minha lembrança ficou o cheiro daquele lugar
E de como estava admirado com tamanha descoberta
Encontrando-me onde ninguém nunca esteve antes
Desde então dela fiz abrigo e esconderijo
Para qual ia sempre quando queria fugir lá de fora

Ao passar dos anos fui descobrindo outras cavernas
Que nunca imaginei existirem em meu interior
Com estalactites de lágrimas acumuladas pelo tempo
Principalmente das minhas rochas sentimentais
Mas também em meus mares e terras glaciais
Cada vez mais profundas, tanto que algumas
Ainda hoje tenho receio de ir até seu fim
E à medida que fico mais velho
Percebo que outras cavernas vão surgindo
Pela força das águas que passam em mim
Ou após os terremotos e vulcões no meu peito

Nessa minha exploração encontrei cavernas
Onde havia seres viventes, a maioria sobrevivendo
Sem nunca terem conhecido a luz do sol
Contudo, o que mais me surpreendeu
Foi descobrir algumas há muito tempo habitadas
Com imagens rupestres e até manuscritos
Então atônito me ative que elas eram
Ou já foram também de outras pessoas
E através delas estamos todos interligados
Neste mundo subterrâneo que até agora
Nenhuma geologia da alma conseguiu explicar

Assim meu ser telúrico se perde e encontra
Continuando a procurar por novas cavernas
Por entre fendas e brechas, sempre a ouvir
Os ecos que ressoam pelos vazios


Geraldo Ramiere



IMAGEM: fotografia interna da caverna búlgara de Prohodna, que possuí dois "olhos abertos" no teto.

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