segunda-feira, 8 de junho de 2020

LEMBRANÇAS FUTURAS

Queria colher uma flor que não fosse de plástico
E comer alguma fruta apanhada da árvore
Como vejo nas imagens deste supercomputador

Trocaria todo este aparato tecnológico
Eletrônico, informático, sintético, cibernético
Por um simples banho de mar ou cachoeira
Até mesmo de chuva, sem ser intoxicado
Do jeito que meus avós falavam que faziam
Quando eram crianças pequenas

Queria que este poema se transformasse
Em algum tipo de máquina do tempo
Para me transportar há décadas atrás
Nem que fosse por um instante
Onde eu diria a qualquer pessoa presente
Num desabafo, tudo que sinto
E que ao mesmo tempo eu pudesse
Sentir o cheiro da grama verde
E respirar um pouco de ar ainda não impuro
Igual aos sonhos que sempre tenho

Queria poder me lembrar de coisas
Como o coro de pássaros em revoada
Caminhar com os pés descalços na terra
Ou de um pôr-do-sol, sem radiação
Na minha memória, feito hologramas
As muitas únicas imagens que tenho
São de rótulos, marcas e propagandas
Que conto para meu amigo robô

Geraldo Ramiere



     Arte: Matt Dixon

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