terça-feira, 2 de junho de 2020

AVE BRASÍLIA

Para quê serve ter asas
Se você não pode voar?
Observo-te em teu canto
Melancolicamente feliz
Engaiolada em si mesma
Mirando aviões a te ignorar

Nesta tua solidão em blocos
Onde cabeças doem
E ilusões retorcem-se secas
Em avenidas distorcidas
Salvam-se apenas quem tem
Como ninho a indiferença

Para quê serve ter asas
Se não te deixam voar?
Enquanto isso eles vão
De poleiro em poleiro
Rapinando o que podem
Sem ter pena de ti

Ó Brasília, bem dita seja
A palavra que te gritar!
Entre tantos silêncios
Empalhados ainda vivos
Sou um dos que indagam
Por que nos arrogais?

Ave Brasília, escutai
Um dos muitos filhos
Que teu canto esqueceu
Nós que planamos ao teu redor
Com nossas asas de poeira
E olhos vermelhos-sol

Para quê serve ter asas
Se você não sabe voar?
Vem que eu te ajudo
Não tenhas medo de quebrar
As grades deste cativeiro
No qual você se criou

Ó Brasília, o que te trago
Não, não é uma oração
Nem algum tipo de perdão
O que te ofereço são
Estes braços abertos
Para contigo saltar

Ave Brasília, quero te vê
Com tuas asas levantadas
Erguendo-se inconcréticas
Livres rumo ao vôo
E nós partindo contigo
Para aonde a gente quiser ir

Geraldo Ramiere





Imagem: Brasília vista do alto

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Tradutor