Em mim habitam quilombos
Fundados por aqueles
Que eu escravizava
Meramente por terem
A mesma cor negra
Das noites negadas
Que eu tanto temia
Fugidos das minhas senzalas
Escapando de meu engenho
Aos meus arredores
Enviei meus capitães do mato
E emissários da morte
Mas como de nenhum deles
Houve notícia ou regresso
Eu mesmo, sozinho
Enveredei-me armado
Pelas matas, em busca
Desses quilombos
Porém, ao chegar
Acabei surpreendido
Ao invés de luta
Receberam-me com festa
Dizendo-me que finalmente
Eu estava liberto
Ao invés de escravos
Encontrei batuques
Cangomas e congos
Origens e orixás
E ao invés de recapturar cativos
Eu que fui cativado
Desde então habito
Em cada um dos quilombos
Protegendo nossas terras
Com todo orgulho por ser
Quilombola de mim mesmo
Geraldo Ramiere
Imagem: Arte em Barro de Comunidade Quilombola de Muquén - União dos Plamares - Alagoas
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