Antes que ela nos mastigue
E nos engula, sem que percebamos
A prenderemos entre os dentes
E a faremos correr em nossas veias
Antes que desperte e descubra
Que roubamos sua cor
E agora somos negros
Somos todos negros
A noite não nos dissolverá desta vez
Cobertos por sua pele
Vagaremos em suas entranhas
Enveredando seus caminhos
Nossos olhos como luas
A observar os amantes
Feito gatos e aves noturnas
Como se fossemos
Um samba ou um blues
A noite não nos dissolverá desta vez
Pois agora seremos nós
A bebê-la, gole a gole
Mas é preciso ter cuidado
Há navios negreiros
Cruzando as madrugadas
Enquanto escurecemos
Mesmo quando é meio-dia
Se for mesmo dia
Geraldo Ramiere
Arte: pintura de Cristian Schloe
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