IMAGEM: foto - Construção de Brasília - fonte: Arquivo Nacional
Lá
Onde sapatos
Lustrados e arrogantes
Pisam, repisam
Onde poderosos
Elaboram leis
E governam o país
Homens simples
Com sonhos retirantes
De botas sujas
E mãos nuas
Estão plantados
Sementes involuntárias
Nesta lavoura
De concreto e metal
Ali
Sonhos simples
De homens retirantes
Erguiam prédios
Como quem arava
A terra mais seca
Subiam aos céus
Asas de andaime
Comer nuvens
Dormir trabalho
Entre ser nada
Ou pouca coisa
Cumprir ordens
De repente o salto
De repente o fundo
De repente se esquece
E cimento
Debaixo dos pés
De homens poderosos
Que pisam, repisam
Permanecem semeados
Sonhos retirantes
Sob cada hora
De outros sonhos
Retirados, removidos
Jogados ao chão
Mas lá, logo ali
Poucos percebem
Que o esquecido
Rompe o concreto
Lento e discretamente
Brotando indiferente
Aos que pisam
E ao poder
Chegaremos ao dia
Que todos verão
Crescer imensamente
Brotando do concreto
Cobrindo o Congresso
Algo que chamarão
De planta nova
Mistura de cerrado
Com sertão
E logo descobrirão
Que na verdade
São apenas
Sonhos germinados
Há anos esperando
Serem colhidos
E colhidos serão
Aqui
Geraldo Ramiere
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