quinta-feira, 18 de junho de 2020

COLHEITA

IMAGEM: foto - Construção de Brasília - fonte: Arquivo Nacional


Onde sapatos

Lustrados e arrogantes

Pisam, repisam
Onde poderosos
Elaboram leis
E governam o país
Homens simples
Com sonhos retirantes
De botas sujas
E mãos nuas
Estão plantados
Sementes involuntárias
Nesta lavoura
De concreto e metal

Ali
Sonhos simples
De homens retirantes
Erguiam prédios
Como quem arava
A terra mais seca
Subiam aos céus
Asas de andaime
Comer nuvens
Dormir trabalho
Entre ser nada
Ou pouca coisa
Cumprir ordens
De repente o salto
De repente o fundo
De repente se esquece
E cimento

Debaixo dos pés
De homens poderosos
Que pisam, repisam
Permanecem semeados
Sonhos retirantes
Sob cada hora
De outros sonhos
Retirados, removidos
Jogados ao chão
Mas lá, logo ali
Poucos percebem
Que o esquecido
Rompe o concreto
Lento e discretamente
Brotando indiferente
Aos que pisam
E ao poder

Chegaremos ao dia
Que todos verão
Crescer imensamente
Brotando do concreto
Cobrindo o Congresso
Algo que chamarão
De planta nova
Mistura de cerrado
Com sertão
E logo descobrirão
Que na verdade
São apenas
Sonhos germinados
Há anos esperando
Serem colhidos
E colhidos serão
Aqui


Geraldo Ramiere

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Tradutor