Não
escrevo poesia
A
poesia é quem em mim se escreve
Às
vezes em bela caligrafia
Noutras,
garranchos indecifráveis
De
dentro pra fora sou manuscrito
Nas
minhas páginas-pele
Em
versos surgindo feito feridas
Com
a pena viciada pelo tinteiro
Que
meu sangue abastece
E
dessa metaforma rascunhada
Amiúde
desfolham poemas
Que
recolho, e quando quero
Penduro
no meu varal de vaidades
Mas
eu, este ser-livro
Maior
que a vontade
De
por outros ser lido
Ando
aprendendo, primeiramente
A
me ler, relendo-me, se preciso
Letra
a letra, linha por linha
Livrando-me
pouco a pouco
Das
palavras mais pesadas
Até
poder, quem sabe
Ser
leve o bastante
Para
conseguir voar
Com
o simples levantar
Da
minha capa-braços
Tornando-me
assim, além de livro
Um
ser-livre, literalmente
Geraldo
Ramiere
Arte: pintura de Vladimir Kush
Nenhum comentário:
Postar um comentário